Conheça os interesses e a história por trás do negacionismo climático

  • 04/11/2025
(Foto: Reprodução)
Crise do clima: como e quando surgiu o negacionismo nos EUA O Jornal Nacional está exibindo uma série de reportagens especiais sobre o futuro do planeta. Esse é o grande tema da Conferência do Clima, em Belém, que vai reunir cientistas, diplomatas, empresários, representantes da sociedade civil e autoridades do mundo inteiro. É um evento importantíssimo. E foi por isso que o Jornal Nacional deu ao repórter Felipe Santana a missão de pesquisar quase cinco décadas da história política dos Estados Unidos. O objetivo jornalístico dele foi identificar quando e como surgiu uma onda que passou a atacar a ciência e a espalhar desinformação sobre o meio ambiente. No episódio desta terça-feira (4 ), você vai conhecer a história do negacionismo climático. "Aconteça o que acontecer, é mudança climática. É a maior farsa já imposta ao mundo (...). A farsa do aquecimento global", disse Donald Trump na Assembleia Geral da ONU em 2025. Às vezes você não se pergunta como chegamos em um ponto tão extremo? De não discutir, mas negar totalmente que existam mudanças climáticas? Para entender como chegamos até aqui, vamos fazer um passeio pela história. Qual foi a primeira vez em que se tocou no assunto mudanças climáticas? Nos Estados Unidos, foi o presidente Jimmy Carter pela TV. A casa de uma família americana. O presidente pedia para que a população economizasse energia e dizia que isso ajudaria a solucionar os problemas ambientais do país. Depois o repórter pergunta: O que você achou do discurso? Ela responde: Bem, eu não gosto de passar frio no inverno. O pai diz: Eu estou disposto a fazer sacrifícios, e são meus filhos que estão me dizendo isso a maior parte do tempo. O ano era 1979. A revolução no Irã interrompeu os caminhos do petróleo no mundo todo. Os americanos enfrentaram filas quilométricas para abastecer o carro. A população ficou revoltada. "Em sociedade de consumo, racionamento é palavrão. Desde quando o petróleo parou de jorrar do Irã, o palavrão tem sido repetido diariamente por assessores de Carter", disse o repórter Lucas Mendes na ocasião. Jimmy Carter não foi reeleito e, no lugar dele, entrou o presidente que é inspiração para Donald Trump: Ronald Reagan, que disse: “Esse governo quer atingir crescimento econômico, reduzindo a intromissão do governo para expandir a liberdade humana. E juntos, nós vamos fazer a América grande de novo”. Ronald Reagan foi responsável por tirar várias regulações ambientais para que os americanos pudessem extrair mais petróleo. Era época de bolso cheio. Só que, silenciosamente, a agência espacial americana, a Nasa, continuou o trabalho, estudando as mudanças climáticas. No último ano do governo Reagan, o cientista da Nasa James Hansen foi prestar um depoimento no Congresso. Esse momento é considerado até hoje um dos mais importantes da ciência climática do mundo. Ele afirmou estar 99% seguro de que o aquecimento da Terra era causado pelo homem e que as consequências seriam devastadoras: “Essas evidências são um argumento muito forte de que o efeito estufa existe e está mudando nosso clima agora”. Conheça os interesses e a história por trás do negacionismo climático Jornal Nacional/ Reprodução A teoria que embasa essa afirmação é antiga, do século 19, mas é básica. Finge que a garrafa é a atmosfera terrestre. Nela, a gente vai botar só ar. Na outra, vamos colocar uma mistura de bicarbonato de sódio com um pouquinho de vinagre. As bolhinhas que se formam é que a reação forma gás carbono, que é o mesmo ar que sai da nossa boca quando a gente respira ou da queima de combustíveis fósseis. A gente vai pegar esse gás carbônico e botar dentro de uma outra garrafa. Imediatamente, nós tampamos as duas. Só que lá dentro tem um termômetro. E para representar o sol, nós usamos uma luz quente. Elas começam exatamente na mesma temperatura. A gente acelerou a imagem. Meia hora depois, a garrafa com gás carbônico estava 2ºC mais quente. Ou seja: quanto maior a concentração de gás carbônico, mais o ar esquenta. Rafe Pomerance era um jovem ambientalista na época do depoimento da Nasa no Senado: “Virou um consenso básico na população que aumentar a concentração de CO₂ na atmosfera aumentava a temperatura da Terra". O que fez com que o curso da política americana mudasse para sempre. Em 1988, depois de dois mandatos como vice de Ronald Reagan, George Bush resolveu se candidatar a presidente, com ideias que pareciam totalmente diferentes das do seu antigo chefe. No discurso mais famoso da campanha, disse: “Não há ideologia. Não é uma questão de ser liberal ou conservador. É o tema comum do futuro. Aqueles que pensam que nós não podemos fazer nada em relação ao efeito estufa estão esquecendo do efeito da Casa Branca. E, como presidente, e eu tenho a intenção de fazer alguma coisa sobre isso”. Mas os próximos quatro anos na Casa Branca marcariam o começo de uma história que a gente acompanha até hoje. O momento em que as mudanças climáticas deixaram de ser uma discussão científica e viraram discussão política. Viraram bandeira partidária que divide a população até hoje. O governo Bush começou realmente verde e criou uma nova área no Departamento de Estado chamada Escritório para Mudança Global, que se encarregaria da diplomacia sobre o assunto. O primeiro diretor foi Daniel Reifsnyder: "No Congresso, senadores como Al Gore e até Joe Biden estavam fazendo pressão para combater as mudanças climáticas". Mas logo logo, as coisas começaram a mudar. Para entender, a gente tem que conhecer o chefe de gabinete, equivalente a ministro da Casa Civil: John Sununu. "Ele era contra os Estados Unidos traçarem metas e prazos para redução de gases causadores do efeito estufa", afirma Daniel Reifsnyder. Sununu acreditava que o país ia parar de crescer se limitasse a queima de combustível fóssil e resolveu levar para a Casa Branca três cientistas, que começaram a colocar em dúvida a existência das mudanças climáticas. Conheça os interesses e a história por trás do negacionismo climático Jornal Nacional/ Reprodução A gente só pôde entender melhor essa história em 2015. Jornalistas investigativos da organização Inside Climate News revelaram documentos secretos da indústria petroleira. Os documentos revelaram que os cientistas das empresas de petróleo sabiam da relação da queima de combustíveis fósseis com o aquecimento da Terra. A indústria do petróleo elaborou um plano midiático para tentar mudar a opinião pública. Uma das táticas foi colocar cientistas negando as mudanças climáticas dentro da Casa Branca. Ambientalistas estimam que a campanha de desinformação tenha custado mais de US$ 1 bilhão. As empresas de petróleo também pagaram personalidades do rádio para contestar as mudanças climáticas. Rush Limbaugh ficou famoso. Não tinha nenhuma carreira científica, mas hoje é visto como o primeiro divulgador do negacionismo. Uma espécie de podcaster da época. "Foi aí que começou a ganhar força o negacionismo. Eles conseguiram destruir o consenso que havia na sociedade sobre a realidade das mudanças climáticas. Foi muito dinheiro gasto pela indústria do petróleo com propaganda e lobby para mudar o curso da história", afirma o ativista Rafe Pomerance. O cineasta brasileiro Pedro Kos fez um filme exatamente sobre esse momento, chamado “O Efeito Casa Branca”. “Eu acho que é literalmente a origem do momento onde a gente se encontra. Em 1988, estava o país inteiro querendo resolver o problema das mudanças climáticas e, quatro anos depois, o país estava dividido. Criaram uma escolha: ou economia ou meio ambiente", diz Pedro Kos. O fim do mandato de George Bush foi marcado pela Rio 92. A Cúpula da Terra, mãe das conferências do clima que vemos hoje. Os Estados Unidos estavam tão polarizado sobre o assunto que o presidente resolveu que ia só de última hora; acabou isolado do resto do mundo ao se negar a traçar metas para combater as mudanças climáticas. "A partir daí se tornou também uma questão partidária. O próximo presidente foi Bill Clinton, que queria fazer um imposto sobre a emissão de carbono. E os republicanos começaram a dizer que só se fala de mudanças climáticas para aumentar os preços das coisas", afirma Rafe Pomerance. "A ciência ficou politizada. Virou parte dessa guerra cultural que a gente está vivendo”, diz Pedro Kos. LEIA TAMBÉM Veja como decisões políticas dos EUA afetam a vida no planeta

FONTE: https://g1.globo.com/jornal-nacional/jn-na-cop30/noticia/2025/11/04/conheca-os-interesses-e-a-historia-por-tras-do-negacionismo-climatico.ghtml


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