Custo de hospedagem pode barrar países pobres e afetar legitimidade da COP30, diz presidente do evento

  • 02/08/2025
(Foto: Reprodução)
Países pressionam governo brasileiro por causa dos preços dos hotéis durante a COP30 em Belém O custo e a falta de vagas de hospedagem em Belém podem fazer que os países mais pobres e também mais afetados pela mudança do clima fiquem de fora da COP30, que acontece em Belém em novembro. A análise da organização e de especialistas converge: é preciso agir ainda nos 100 dias que faltam para o evento para evitar que ausência de nações ou mesmo que delegações reduzidas afetem a legitimidade do que for decidido na conferência. "Temos que encontrar uma maneira de que eles possam estar em Belém. Com a ausência dos países pobres, ficaria uma COP sem legitimidade”, afirma André Corrêa do Lago, presidente da COP30. Os países sob risco de não participar têm um orçamento limitado de US$ 143 por dia, considerando alimentação e hospedagem. Vale dizer que esse valor é padrão em todas as COPs, historicamente. Mas a realidade em Belém é de preços “extorsivos”, como descreveu o próprio André Corrêa do Lago. Eles chegam a até dez vezes o praticado na cidade, com diárias a US$ 700. O governo do Pará, comandado por Helder Barbalho (MDB), diz que que vem adotando uma série de soluções para ampliar a oferta de hospedagem e que não pode intervir na questão dos preços (veja íntegra do posicionamento abaixo). Faz meses o preço das hospedagens têm sido uma questão para o governo, que já buscou acordo com a rede hoteleira no estado, sem sucesso. Nesta semana, a questão se tornou oficial com o escritório climático da Organização das Nações Unidas (ONU) realizando uma reunião de emergência para debater os altos preços das acomodações. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça A crise se agravou quando 25 países entregaram uma carta na qual questionam a situação. Entre os signatários está o bloco dos Países Menos Desenvolvidos (LDC, em inglês), que inclui 44 países em desenvolvimento como Tuvalu, Liberia, Angola, Gâmbia, entre outros. Uma das questões que foram levantadas é de que países em desenvolvimento e pobres fiquem de fora das discussões, sendo eles justamente os mais afetados pela crise do clima. Vista aérea da cidade de Belém no Pará, capital da COP30 no Brasil. Rafa Neddermeyer/Cop30 Brasil Sem países, COP pode ser colocada em xeque ➡️ O presidente da COP30 admitiu que os altos preços podem inviabilizar a vinda dessas nações, mas disse que o país deve agir, sob pena de isso fira a legitimidade do evento. Isso porque a questão pode ser interpretada como uma medida que inviabilizou os países de participarem das discussões. Uma das soluções propostas foi a oferta limitada de quartos por preço mais acessível, mas isso impediria que os grupos viessem completos, com todos os negociadores. Mas isso também é um risco. Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, resume a preocupação de ambientalistas e observadores que acompanham as últimas COPs. Ele explica que isso poderia colocar em xeque os acordos feitos na COP. "No caso de países que tiverem a delegação diminuída e por isso não puderem participar dos debates, eles podem questionar as resoluções que eles gostariam e não puderam debater. Esse é o ponto mais grave, porque você pode colocar sob questionamento as resoluções de toda a conferência. Eles podem alegar que o país inviabilizou a participação deles", avalia Astrini. Comitivas dizem que podem cortar número de participantes por causa de custos para hospedagem na COP30 Plataforma e soluções O governo havia prometido como resposta uma plataforma com hospedagens até US$220 por diária, que teria esse grupo como prioritário -- apesar do valor estar acima das diárias que os grupos têm. O g1 teve acesso à plataforma nesta sexta-feira e não há hospedagens nesse preço, a média é acima de US$ 300. Plataforma do governo federal dedicada a hospedagens na COP30 Reprodução Segundo Lago, os quartos disponíveis foram os de menor valor encontrado. No entanto, na reunião, os países trouxeram demandas que pedem estadias que se limitem a US$ 70 a diária, porque ainda teriam que arcar com os custos de transporte e alimentação com o valor de US$ 143. “O que a SECOP está fazendo é assegurar um número mínimo de quartos por um preço abaixo do que está no mercado. Os preços mais baratos não estão sendo aceitos por esses países mais pobres, temos que tentar baixar ainda mais os preços desses quartos”, disse Lago. A outra solução que havia sido prometida era a disponibilização de navios. Mas ela também saiu mais cara do que o esperado por quem aguardava a medida como resposta, com cabines a US$600. Lago disse que o governo segue no diálogo para tentar viabilizar a vindo dos países mais pobres, por meio da Casa Civil. Consultora relata desafio pelas acomodações E não só os países pobres podem ficar de fora, mas as organizações da sociedade civil, pesquisadores e ambientalistas. O risco é de que, com a pressão dos preços, haja um esvaziamento do evento. Vanessa Robinson, que é consultora e atua ajudando ONGs internacionais a conseguirem acomodação no Pará. Ela conta que os altos preços têm sido um desafio, principalmente para os países mais pobres. “É difícil porque as organizações são importantes no debate. A gente quer uma COP com participação popular, mas os preços estavam inviabilizando isso", explica. A consultora conta que grupos da Indonésia, México têm dificuldade, mas mesmo as instituições da Europa não estão conseguindo fechar hospedagens que contemplem os orçamentos. Robinson disse que em uma de suas buscas chegou a receber uma oferta de R$ 77 mil, para a estadia, fora a comissão de agentes imobiliários, que pode chegar a 20% do valor da locação. "A gente tenta encontrar e não consegue, porque está muito caro. É preciso fazer um trabalho de conscientização com as pessoas que estão alugando, explicar a importância da COP. É possível, mas exige envolvimento e diálogo", afirma. Vanessa diz que, em parte, o problema existe por uma lacuna do poder público que não atuou em conjunto com a comunidade local para explicar a dimensão e importância do evento. Presidente da COP30 nega mudar evento de Belém; organização promete vagas de até US$ 200 para países em desenvolvimento e insulares Risco de COP com debate esvaziado E não só os países pobres podem ficar de fora, mas as organizações da sociedade civil, pesquisadores e ambientalistas. O risco é de que, com a pressão dos preços, haja um esvaziamento do evento. Uma das metas do Brasil era mostrar suas ações ao receber uma COP na Amazônia e era isso que o Instituto Perifa Sustentável, de São Paulo, pretendia fazer. Eles estão indo para a quinta COP que a organização participa e levariam a Brasilândia, região mais vulnerável da capital paulista. No entanto, diferente dos cinco anos anteriores, em que estiveram de Europa à Ásia, eles não conseguem estar no Pará. Mahryan Sampaio, e co-fundadora do Instituto, explica que não há opções acessíveis: de casas, hostels e hotéis, todos têm preços inacessíveis. “A média de valor que recebemos é de R$ 60 mil para uma pessoa passar todos os dias do evento em Belém. Isso é muito mais do que já pagamos no exterior. Estamos tentando nos reunir com outras entidades e alugar casas juntos, mas ainda assim os preços são muito altos”, explica. Mahryan explica que isso coloca em xeque a meta de ter uma COP que seja participativa. “Quando a gente pensa na luta global sobre a mudança do clima, sobretudo no Brasil, é impossível pensar em uma COP que tenha isso no centro sem ouvir quem mais sofre. E mas mais do que isso, quem está pensando nas soluções no país”, explica. Governo do Pará diz que adota medidas para aumentar oferta de hospedagem na COP30 Posicionamento do governo do Pará Veja íntegra da nota: "O Governo do Pará reforça que vem adotando uma série de soluções para ampliar a oferta de hospedagem em Belém e na região metropolitana durante a COP 30. Além da rede hoteleira já existente, estão em construção novos hotéis, como o Vila COP, que contará com 405 leitos para delegados e líderes. A União contratou navios para hospedagem flutuante, e escolas da rede estadual estão sendo adaptadas no padrão hostel para receber visitantes. Também foram estimulados o aluguel de temporada e parcerias com plataformas digitais para ampliar a disponibilidade de leitos. Em julho, o Governo do Pará firmou Acordo de Cooperação Técnica com a Associação Brasileira da Indústria Hoteleira – Seção Pará (ABIH/PA) para garantir quartos a custos acessíveis na rede hoteleira para delegações de 196 países e demais participantes da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá em Belém, em novembro de 2025. A Procuradoria-Geral do Estado lembra que a locação de imóveis e as tarifas praticadas pelo setor hoteleiro em Belém são regidas por normas de direito privado, baseadas na livre negociação entre as partes, sem previsão legal para intervenção direta do Poder Público. Mesmo diante desses limites, o Governo do Pará mantém diálogo constante com proprietários, imobiliárias e empreendimentos de hospedagem para reforçar a importância de práticas responsáveis durante a conferência."

FONTE: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2025/08/02/hospedagem-paises-pobres-e-legitimidade-da-cop30.ghtml


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