Mortes de sem-teto no Rio: filha quer levar corpo de ‘Bahia’ para a terra natal
18/10/2025
(Foto: Reprodução) Grupo que matou 2 sem-teto e feriu outro era formado por 3 homens com fuzil e pistolas
Isabela da Silva dos Santos, de 29 anos, é autônoma e mora em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador. Apesar do distanciamento e do pouco contato, sempre acolheu o pai, Etevaldo Bispo dos Santos, de 52 anos. Ele era conhecido como Bahia, em referência ao estado onde nasceu — precisamente em São Sebastião do Passé, também na Região Metropolitana de Salvador. É para lá que Isabela deseja que o corpo do pai seja levado.
Etevaldo dormia embaixo da marquise da estação de metrô de Irajá, na Zona Norte do Rio de Janeiro, quando, por volta das 4h de sexta-feira (17), 3 atiradores armados com fuzil e pistolas o atacaram. Além dele, Fábio Fernando da Silva, de 44 anos, o Milharina, também foi baleado.
Bahia e Milharina morreram no local. Um 3º homem, de 38 anos, foi atingido e está internado em estado grave.
A expectativa é que Isabela chegue ao Rio de Janeiro na próxima terça-feira (21) para resolver os trâmites burocráticos. Ela vem com apoio da Prefeitura de São Sebastião do Passé e espera conseguir o traslado. “É um desejo nosso que ele seja enterrado na cidade dele, para que todas as filhas e parentes consigam se despedir”, contou.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro solicitou à Secretaria Municipal de Assistência Social que providencie o transporte do corpo de Etevaldo até a Bahia.
“Seria uma excepcionalidade, como aconteceu no caso da Juliana Marins, que morreu na Indonésia e foi trazida para o Brasil. Essa é uma situação que exige do Estado uma reparação”, ressaltou a defensora pública Cristiana Xavier, que acompanha o caso.
De acordo com a defensora, a Assistência Social está realizando um levantamento orçamentário para avaliar a viabilidade do traslado.
Em nota, a Secretaria Municipal de Assistência Social confirma que recebeu a solicitação da Defensoria Pública do Estado do Rio, no fim da manhã deste sábado.
Como os sepultamentos para casos de gratuidades - seja de pessoas hipossuficientes ou corpos não reclamados em hospitais ou nos IMLs do município - são realizados nos cemitérios públicos do Rio, a secretaria está analisando as possibilidades para viabilizar o pedido de traslado.
Seu Etevaldo, conhecido como Bahia, um dos mortos em Irajá
Batikum Afro/Divulgação
Idas e vindas
Isabela contou que a mãe conheceu Etevaldo em um circo, mas o relacionamento não durou muito. Após o término, ela soube que ele havia se mudado para o Rio de Janeiro e ficou sem notícias do pai por mais de 3 anos.
“Ele chegou a vir para Candeias em 2022. Alugamos uma quitinete para ele ficar, mas ele voltou para o Rio. Quando a minha avó morreu, há 2 anos, os parentes conversaram com ele para que retornasse e cuidasse da casa dela, mas ele preferiu continuar no Rio”, contou Isabela.
Etevaldo deixou outras 3 filhas. Ainda que guarde poucas lembranças do pai — de quando tinha cerca de 6 anos —, Isabela lamenta a morte dele.
Segundo a filha, Etevaldo enfrentava o vício em álcool e drogas. “Essa vida foi uma escolha dele. Fiquei triste, sem dormir, com sentimento de remorso pela falta de notícias, pela distância. Sempre o acolhi quando ele vinha para cá. Não tivemos afeto de pai e filha, de criação, mas sempre tive ele como pai.”
Etevaldo foi percussionista em Salvador e, no Rio de Janeiro, também participava de aulas de música em um projeto social na Zona Norte.
A Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso. Segundo a polícia, os assassinos chegaram de carro, desceram, se aproximaram e fizeram vários disparos à queima-roupa. Foram tantos tiros que as cápsulas ficaram espalhadas pelo chão.
Ainda não há informações sobre o que teria motivado o ataque. Os corpos dos homens foram levados para o Instituto Médico-Legal (IML).
O g1 entrou em contato com a Secretaria de Assistência Social do município e aguarda retorno.
Etevaldo Bispo dos Santos, o Bahia, morto enquanto dormia em Irajá
Reprodução
