Procurador-geral de Justiça do RJ se diz surpreso que vazamento de informação para TH Joias tenha vindo da Alerj
04/12/2025
(Foto: Reprodução) Procurador-geral de Justiça do RJ diz que vê com ‘surpresa’ vazamento de informação
O procurador-geral de Justiça do RJ se disse surpreso que o vazamento de informações durante a Operação Zargun, quando o empresário e então deputado estadual TH Joias foi preso, tenha partido da Assembleia Legislativa do RJ (Alerj).
“Muita surpresa, porque não havia, como não há na nossa investigação nenhum indicativo de que o vazamento pudesse ter saído da Assembleia Legislativa”, disse Antonio José Campos Moreira.
O presidente da Casa, Rodrigo Bacellar (União Brasil), foi preso nesta quarta-feira (3) pela Polícia Federal, durante a Operação Unha e Carne, por suspeita de ter avisado vazado os dados sigilosos, em setembro.
“Estamos aguardando a apuração dos fatos, e receber, se for o caso, uma comunicação formal por parte do Supremo”, acrescentou.
O procurador lembrou que, na ocasião, “houve uma certa dificuldade” para achar TH Joias.
“Realmente, como houve uma certa dificuldade para a realização da prisão, como a residência em que o então deputado habitava estava desfeita, com sinais de uma fuga, isso levantou a suspeita e gerou uma apuração interna.”
O procurador-geral de Justiça do RJ, Antonio José Campos Moreira.
Reprodução/TV Globo
🔎 Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, foi preso por tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, suspeito de negociar armas para o Comando Vermelho (CV). Ele assumiu o mandato em junho, mas deixou de ser deputado após sua prisão (entenda abaixo).
Antonio José Campos Moreira esteve na noite desta quinta-feira (4) na Sala Cecília Meireles, na Lapa, para participar do Consórcio de Integração do Sul e Sudeste (Cosud).
Mais de 30 horas após a prisão de Bacellar, o governador Cláudio Castro (PL) fez sua primeira aparição pública no Centro do Rio. Ele chegou pelos fundos e não conversou com a imprensa.
Cláudio Castro chega à Sala Cecília Meireles, no Centro
Henrique Lima/TV Globo
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Moraes mandou prender Bacellar
O mandado de prisão de Bacellar foi expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que também determinou o afastamento dele da presidência da Alerj.
Em sua decisão, Moraes afirmou que há "fortes indícios" da participação de Bacellar em uma organização criminosa.
Segundo trecho da decisão obtida pelo g1 e pela TV Globo, ele estaria atuando ativamente pela "obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo Estadual".
Rodrigo Bacellar é preso pela PF por suspeita de vazamento de informações de operação da prisão de TH Joias
Moraes também determinou que o governo do estado preste esclarecimentos sobre uma possível “manobra” ao demitir o então secretário de Esportes Rafael Picciani (MDB) para que ele voltasse para a Alerj.
O Blog do Octavio Guedes mostrou que, na tarde de 2 de setembro, véspera da Operação Zargun, Bacellar ligou para TH Joias, avisou que haveria mandados contra ele e o orientou a destruir provas — o ourives chegou a organizar uma mudança e usou até um caminhão-baú para isso.
O g1 apurou que Bacellar foi preso dentro da Superintendência da PF no Rio, na Praça Mauá, após “ser convidado” para uma “reunião” pelo próprio superintendente, Fábio Galvão. O presidente da Alerj recebeu voz de prisão tão logo chegou — e seu celular foi apreendido. TH foi levado para a PF a fim de prestar depoimento, mas manteve-se em silêncio.
“Os fatos narrados pela Polícia Federal são gravíssimos, indicando que Rodrigo Bacellar estaria atuando ativamente pela obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo estadual, capazes de potencializar o risco de continuidade delitiva e de interferência indevida nas investigações da organização criminosa”, escreveu Moraes.
A PF apreendeu R$ 90 mil, também nesta quarta, no carro em que o deputado dirigiu até a superintendência.
Dinheiro apreendido pela PF no carro de Bacellar: total foi mais de R$ 90 mil
Reprodução
A Alerj informou que ainda não foi comunicada oficialmente sobre a operação ocorrida nesta manhã e "assim que tiver acesso a todas as informações, irá tomar as medidas cabíveis."
O advogado Bruno Borragini, que representa Bacellar (União Brasil), afirmou que a prisão do deputado pela Polícia Federal é “totalmente desproporcional” e que o parlamentar “não praticou nenhuma conduta ativa” para obstruir investigações.
Borragini também negou que Bacellar tenha vazado informações sigilosas para o deputado TH Joias. Segundo ele, a iniciativa do contato não partiu do presidente da Alerj.
“Ao que tudo indica, o contato teria partido do próprio Thiego (TH), e não do Rodrigo. Ele não falou nada, o Rodrigo nem respondeu”, afirmou o advogado.
TH Joias e Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj
Divulgação
Buscas na Alerj
Moraes também expediu 8 mandados de busca e apreensão, e um dos endereços era o gabinete de Bacellar na Alerj. Houve ainda outro mandado de intimação para cumprimento de medidas cautelares diversas da prisão.
A ação desta quarta, explicou a PF, se insere no contexto da decisão do STF no âmbito do julgamento da ADPF das Favelas, que, dentre outras providências, determinou que a corporação conduzisse investigações sobre a atuação dos principais grupos criminosos violentos em atividade no estado e suas conexões com agentes públicos.
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TH Joias e Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj
Divulgação
Relembre a prisão de TH Joias
Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, foi preso no dia 3 de setembro por tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, suspeito de negociar armas e acessórios para o Comando Vermelho (CV).
TH era 2º suplente e assumiu em junho do ano passado, após a morte de Otoni de Paula Pai e a recusa de Rafael Picciani em herdar essa cadeira na Alerj — ele saiu para compor o secretariado do governador Cláudio Castro (PL). Mas bastou Picciani retomar a vaga para que TH perdesse o cargo — Castro exonerou Picciani da Secretaria Estadual de Esporte e Lazer e o mandou de volta à Alerj.
TH Joias foi alvo de 2 operações simultâneas, de investigações convergentes. Uma cumpriu mandados expedidos pela Tribunal Regional Federal; outra, pelo Tribunal de Justiça do RJ.
A PF diz ter identificado “um esquema de corrupção envolvendo a liderança da facção no Complexo do Alemão e agentes políticos e públicos”. Para o MPRJ, TH utilizou o mandato para favorecer o Comando Vermelho, inclusive nomeando comparsas para cargos na Alerj.
Pela Operação Zargun — cujo suposto vazamento levou à operação desta quarta-feira —, a PF saiu para cumprir 18 mandados de prisão preventiva e 22 de busca e apreensão, além do sequestro de bens no total de R$ 40 milhões, expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). A investigação foi da Delegacia de Repressão à Entorpecentes (DRE), da PF, e do Ministério Público Federal.
Investigações identificaram um esquema de corrupção envolvendo TH, chefes do CV e outros agentes públicos, incluindo um delegado da PF, policiais militares e ex-secretários.
“A organização infiltrava-se na administração pública para garantir impunidade e acesso a informações sigilosas, além de importar armas do Paraguai e equipamentos antidrone da China, revendidos até para facções rivais”, afirmou a PF.
Os alvos respondem por organização criminosa, tráfico internacional de armas e drogas, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
Já pela Operação Bandeirante, a Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou TH e outras 4 pessoas pelos crimes de associação para o tráfico de drogas e comércio ilegal de armas de fogo de uso restrito. A investigação foi da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio e ao Tráfico de Armas da Polícia Federal (Delepat).
De acordo com a denúncia, os acusados mantinham vínculos estáveis com o Comando Vermelho, atuando nos complexos da Maré e do Alemão e em Parada de Lucas.
O grupo é acusado de intermediar a compra e venda de drogas, armas e equipamentos antidrones usados para dificultar operações policiais nos territórios ocupados pela organização, além de movimentar grandes somas em espécie para financiar as atividades da facção.
A ação penal proposta pelo procurador-geral de Justiça do RJ, Antonio José Campos Moreira, obteve, junto ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), 4 mandados de prisão e 5 de busca e apreensão, cumpridos em endereços na Barra da Tijuca, Freguesia e Copacabana.
O presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União Brasil)
Divulgação