Saúde dos professores: mais de 1,7 mil profissionais da rede estadual se afastaram por adoecimento mental em 2025

  • 25/10/2025
(Foto: Reprodução)
Psicólogo comenta sobre afastamento e bem-estar de professores Mais de 1.700 professores da rede estadual no Tocantins foram afastados por questões relacionadas à saúde mental, em 2025. Na rede municipal de Palmas, o número de licenças médicas concedidas a professores da rede pública chega a 769, no ano. O município não especificou quais os motivos dos afastamentos (veja os dados abaixo). "Eu fiquei sem sentir a minha perna por um dia inteiro, eu fiquei cega por um dia inteiro, crise de ansiedade. O médico jurou que eu estava tendo um derrame. Eu passei várias vezes por um fio para ter um ataque cardíaco. Então assim, a situação que nós estamos vivendo é desesperadora", contou uma professora. Sobrecarga, ameaças, violência verbal, ansiedade e falta de assistência médica estão entre os fatores relatados por professores. Veja relatos de quem vivencia o ambiente escolar no Tocantins. A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) afirmou que tem adotado medidas contínuas de aperfeiçoamento da gestão escolar, apoio técnico e acolhimento aos servidores (confira abaixo o que disse o órgão sobre os assuntos levantados pelos docentes). A Secretaria Municipal de Educação (Smed) afirmou que "mantém o Programa Saúde do Educador, que está desenvolvendo protocolos institucionais voltados ao bem-estar dos servidores, incluindo ações de acolhimento, acompanhamento psicológico e orientações para lidar com situações de vulnerabilidade e violência no ambiente escolar". ➡️ Na reportagem você confere: Dados sobre professores afastados no Tocantins Relatos de professores da rede pública O que aconteceu com professor de Palmas após agressão na sala de aula Crise dos recém-concursados Saúde mental dos professores como um problema coletivo Professores afastados no Tocantins A rede estadual do Tocantins possui 4.047 professores efetivos e 3.809 contratados, segundo a Secretaria de Estado da Educação (Seduc). O número de afastamentos por saúde mental entre esses profissionais entre janeiro e setembro de 2025 superou o quantitativo de licenças concedidas em todo o ano de 2024. Somente em 2025, mais de 1.700 professores do Estado foram afastados por questões relacionadas à saúde mental. O número corresponde a 22,29% do total de profissionais da rede estadual. Veja no gráfico abaixo: Na rede municipal de educação de Palmas, entre janeiro e 13 de outubro de 2025, foram concedidas 769 licenças médicas para professores. No ano passado, foram autorizadas 1.039 licenças. O município não especificou quais tipos de licenças médicas foram solicitadas nesses períodos. Conforme a Secretaria Municipal de Educação (Semed), "por questões éticas e de sigilo profissional, não é possível divulgar as causas dos afastamentos". O Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado do Tocantins (Sintet) informou que tem recebido denúncias feitas por professores sobre assédio moral e outras situações. Conforme o sindicato, é oferecida orientação jurídica gratuita aos filiados, especialmente sobre as licenças para tratamento de saúde e garantia dos direitos trabalhistas e previdenciários. 'Como se não tivesse direito ao descanso' Em entrevista ao g1, professores da rede pública de ensino no Tocantins compartilharam as principais problemáticas vivenciadas no ambiente escolar. Os nomes deles e locais de atuação não serão revelados na reportagem por questões se segurança. Confira abaixo os depoimentos desses profissionais. Sala de aula em escola pública do Tocantins Elias Oliveira/Governo do Tocantins Violência verbal e falta de respeito Com 27 anos de carreira na educação, sendo 13 deles em uma única escola, uma professora da rede estadual dá aulas turmas com 40 a 45 estudantes. Ela conta que a falta de respeito com o professor e a violência verbal têm prejudicado o dia a dia dos educadores. "O aluno não tem mais respeito nenhum pelo professor. Ele não tem respeito pelo patrimônio, ele não tem respeito pelo copo que ele bebe, pela vasilha que ele come, manda tomar no [...] a hora que quer. Então, é isso que nos adoece mesmo", contou. O excesso de projetos também tem sido um dos problemas desses profissionais, conforme a professora. "Lá em cima, na cúpula, eles montam um monte de projeto e jogam para a gente. Eles não testam. Quem tem que testar e ver se dá certo somos nós, professores". Como se não tivesse direito ao descanso Trabalhando na área da educação há 10 anos, outra professora da rede estadual e recentemente realizou o sonho de tomar posse como efetiva no concurso da educação do Estado. Mas, desde que passou a atuar em uma escola no estado, tem sofrido com burocracias como o funcionamento do Sistema de Gestão Escolar (SGE). Segundo a educadora, problemas no sistema e preenchimentos de uma mesma informação repetidas vezes na plataforma tomam muito tempo, principalmente nos finais de semana. "Então nós temos que planejar uma mesma aula várias vezes. É um plano de curso, é um plano de aula, é um plano diário, é a mesma coisa, só que dividida em formas diferentes. Isso demanda muito do nosso tempo, por mais que a gente reclame, por mais que a gente fale, ainda assim eles não nos atendem". No caso dela, além do SGE, ainda é necessário fazer o preenchimento de planilhas. "É como se a gente tivesse que provar que está o tempo todo trabalhando. É como se a gente não tivesse direito ao descanso". Como foi efetivada recentemente, ela afirma que a pressão é maior devido ao período probatório. Segundo a professora, os educadores são "coagidos o tempo todo, assediados o tempo todo e perseguidos". Por conta da sobrecarga de trabalho e perseguição, a professora teve problemas de saúde relacionados ao desgaste mental e precisou fazer uso de medicamentos para ansiedade. "Cheguei aqui com uma saúde 100%. Eu nunca tive que tomar remédio para controlar a ansiedade, para controlar qualquer coisa. Aqui adquiri uma ansiedade que quase me matou. Por várias vezes eu fui para o hospital, com o meu coração acelerado de tal forma e com a pressão tão alta, a ponto de dar um infarto, a ponto de dar um derrame, crise de ansiedade", contou. Sem tempo para organizar uma boa aula Outro professor ouvido pela reportagem também trabalha na área da educação há cerca de 10 anos. Segundo ele, os problemas com a saúde mental afetam não só os educadores, mas impactam diretamente os alunos. "Se a gente não tem um projeto de vida, porque a gente está ferido psicologicamente, a gente está passando por toda essa pressão, a gente não consegue atender o nosso alunado. Então, as aulas não vão ser tão boas, ela poderia ser melhor, mas com tanta burocracia de sistema, com tudo aquilo, você acaba não tendo tempo até para organizar uma boa aula, por exemplo. Então, isso impacta diretamente a aprendizagem dos alunos, com certeza", contou. Segundo o professor, apesar de o Estado ter um programa de bem-estar para os profissionais da educação, as atividades realizadas não atendem às necessidades dos educadores. "A gente não teve um psicólogo ali para fazer uma terapia quando precisa, a gente não teve apoio de nada. Simplesmente chamam um professor de educação física, faz um alongamento, tá feito, pronto. Curou o professor. E não é assim". Além do adoecimento mental, alguns professores também sofrem com a violência física, como aconteceu neste ano em Palmas. O que diz a Seduc sobre os problemas com o SGE? A Secretaria informou que mantém contato direto e diário com a empresa responsável pela manutenção do SGE e que solicita a implementação de correções e melhorias sempre que necessário. O governo disse que foi criado um Comitê de Gestão do SGE para tornar a ferramenta mais eficiente e desburocratizada para o professor. A secretaria afirmou que os problemas relatados pelos professores são acompanhados pelas Superintendências Regionais de Educação. Também foi informado que os docentes podem solicitar suporte direto por meio de e-mail, call center e grupos de WhatsApp. O que diz a Seduc sobre o bem-estar dos professores? O governo disse que as equipes das superintendências e escolas têm realizado orientações e acompanhado a ambiência e o clima escolar. A secretaria também citou que foi decretada a Polícia Pública de Bem-Estar Profissional (Probem), que atua em três eixos: Atenção ao bem-estar profissional, voltada à percepção de emoções e satisfação no ambiente de trabalho; Valorização dos profissionais da educação, com práticas que favorecem vivências de bem-estar, saúde integral e desenvolvimento pessoal e relacional; Qualidade de vida no trabalho, integrando as condições laborais às necessidades biopsicossociais e culturais dos servidores. LEIA TAMBÉM Professora registra boletim de ocorrência após ser agredida com soco e ameaçada por estudante em sala de aula Aluno de 17 anos é suspeito de agredir professor com cadeira e socos dentro de sala de aula, diz Polícia Militar Pai de aluna dá nove socos em professor após bronca por uso de celular em sala de aula Agressão na sala de aula Colégio Estadual Criança Esperança, na região norte de Palmas Reprodução/Google Street View Em agosto de 2025, um professor do Colégio Estadual Criança Esperança, na região norte de Palmas, foi agredido com uma cadeirada e socos por um adolescente de 17 anos. A agressão aconteceu no momento em que o professor apagava o quadro para iniciar a aula. O jovem deu uma cadeirada e, em seguida, continuou o ataque com socos. "Doeu bastante, foi um susto, mas ainda assim eu estava acreditando que era um acidente, que algum aluno esbarrou em mim ou jogou a cadeira sem querer, ou que a intenção era outra e não me acertar", relembrou o professor. O professor tomou posse no último concurso público da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) e pediu afastamento por causa do trauma que passou. Ao g1, o professor informou que segue afastado. Ele foi informado, na época, que receberia apoio do departamento de Política de Bem-Estar do Profissional da Educação (Probem) da Seduc, mas só foi procurado pela equipe do programa nesta sexta-feira (24). "Vieram ver como eu estava e dizer que posso procurar atendimento quando precisar lá na Superintendência Regional de Educação, na equipe multi de lá", contou. A Secretaria de Educação disse que está realizando os devidos encaminhamentos para garantir o atendimento multiprofissional, incluindo suporte psicológico e médico, conforme avaliação técnica. A Seduc informou que "trata com seriedade todas as situações de violência ou ameaças no ambiente escolar". Segundo o órgão, os casos comunicados para a ouvidoria são apurados pelos setores competentes, que promovem orientação, formação e acompanhamento dos profissionais envolvidos. A secretaria disse que também são realizadas "mentoria e suporte às equipes gestoras para a construção de ambientes escolares mais seguros e acolhedores". Crise dos recém-concursados Sala de aula vazia em escola de Gurupi Prefeitura de Gurupi/Divulgação Quem passou no último concurso da educação no Tocantins, realizado em 2023, tem enfrentado a realidade dos ambientes escolares. Muitos que foram designados para trabalhar nas salas de aula estão pedindo transferência para outros setores ou estão solicitando afastamento médico. "Eu tenho 13 anos nessa escola. Os novatos que tomaram posse no ano passado e neste ano, os recém-concursados, muitos que vieram, não ficaram", contou uma professora da rede estadual. Um dos professores entrevistados contou que, por causa da ansiedade provocada pelo ambiente escolar, teve sintomas físicos semelhantes a um infarto. Como entrou no último concurso da educação do Estado, apesar de ter o direito ao afastamento, preferiu não solicitar a licença por causa do período probatório. "Há uma pressão constante. Tudo é utilizado desse probatório, então a gente tem que sofrer calado, basicamente. Então a gente acaba ficando doente. Não pode pedir uma licença porque senão a gente vai ser prejudicado no probatório". Conforme o psicólogo e doutor em psicologia social, Ladislau Ribeiro, a nova geração de professores tem vivenciado uma frustração nos ambientes escolares. Acolher esses profissionais e fazer uma boa integração entre os experientes e novatos é uma oportunidade de promover melhorias na educação. "Muitos chegam com vontade de darem o seu melhor no exercício da docência, mas rapidamente se frustram porque se deparam com ambientes que nem sempre são muito acolhedores. É muito importante nós aproveitarmos o desejo, este ânimo e a criatividade dos professores que estão chegando. Eles ainda não têm experiência, mas, se houver uma boa integração envolvendo gerações mais experientes com esta turma um pouco mais nova, as chances de haver uma melhoria na qualidade da educação, elas serão muito grandes", explicou. Saúde mental dos professores é um problema coletivo Em entrevista ao g1, o psicólogo Ladislau Ribeiro falou como o adoecimento mental dos professores acaba sendo um problema coletivo, que afeta os educadores, os alunos e familiares. Ele explica que a natureza da atividade docente mudou com os avanços tecnológicos e isso levou a uma série de problemas. "Os professores passaram a lidar com muitos sistemas. Precisam lidar com demandas administrativas, com dados que antigamente eram alimentados por técnicos de secretaria. Quando o professor não se encontra em condições mínimas para se regular na relação com os alunos e na relação com o seu trabalho, que é um trabalho complexo, obviamente o coletivo sente". Esse acúmulo de serviços é um fator que faz os professores lidarem com estresse e esgotamento físico e mental. Esses sintomas muitas vezes se apresentam por meio da Síndrome de Burnout, doença que leva ao esvaziamento e falta de sentido em atividades cotidianas. "Então, no caso dos profissionais professores, a Burnout se expressa como um esvaziamento de sentido na relação do professor com o trabalho, com os alunos, com a própria missão que nós temos, que é a missão de educar, de transformar vidas através da educação. Então, um professor com esta síndrome, em geral, não consegue mais executar as tarefas mais simples, com as quais ele estava habituado a lidar", explicou. Isso impacta a forma como esses profissionais se veem enquanto educadores, pois a docência muitas vezes é atrelada à identidade. Esses trabalhadores são lidos como professores dentro e fora da sala de aula. "A autoestima tem muito a ver com o reconhecimento que um sujeito conquista na relação com o outro. O professor começa a duvidar da sua capacidade na medida em que ele percebe uma dificuldade de manter os alunos concentrados em sua aula, quando nas reuniões de planejamento suas ideias já não têm a mesma repercussão, quando as pessoas começam a olhar esse profissional com um olhar distinto". Segundo o Ladislau, o adoecimento mental pode provocar sintomas físicos como: Quedas de cabelo Distúrbios do sono Dificuldades de concentração Aumento na irritabilidade Aperto no peito Dificuldade para respirar Mas como ajudar esses professores? Para o psicólogo, ouvi-los é o primeiro passo. "Se os professores forem ouvidos, se eles tiverem condições de se perceberem como parte desse processo de formação, a tendência é de que os resultados sejam alcançados de um modo satisfatório", afirmou. Segundo o presidente do Sintet, José Roque Santiago, é necessário um ambiente de trabalho saudável para os professores, valorização financeira e investimento nos espaços escolares. "Tem que vir uma parte para valorizar e a para outra reconhecer. Valorizar monetariamente, financeiramente. Reconhecer é outra coisa nós precisamos de democracia dentro das escolas, um ambiente de trabalho saudável, com a participação de todos e de todas no que diz respeito ao dia a dia da escola. Isso precisa ser reconhecido. E os espaços escolares. Escolas precarizadas não ajudam na educação", disse. Dia do Professor: profissionais compartilham história, amor e conhecimento Veja mais notícias da região no g1 Tocantins.

FONTE: https://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2025/10/25/saude-dos-professores-mais-de-17-mil-profissionais-da-rede-estadual-se-afastaram-por-adoecimento-mental-em-2025.ghtml


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